quarta-feira, 19 de julho de 2017

Ordem dos Arquitetos denuncia "chico-espertice" de grupo de engenheiros

A propósito do projeto lei que está a votação no parlamento e que se for aprovado reabre trabalhos de arquitetura a alguns engenheiros, Daniel Fortuna do Couto, vice-presidente da Ordem dos Arquitetos, deu uma entrevista ao I onde ataca a intenção de levar esta situação para a frente. A entrevista acaba por ser bem mais do que apenas uma crítica a essa intenção, tendo inclusive diversas frases polémicas. Por sua vez a Ordem dos Engenheiros acusa a Ordem dos Arquitetos de persistir na ilegalidade criada. De seguida transcrevemos algumas frases fortes da entrevista do vice-presidente da Ordem dos Arquitetos (que pode ler na íntegra no artigo do I).

- Serão centenas de casos [inscritos na Ordem dos Engenheiros que se formaram como arquitetos] e houve cursos específicos para atualizarem a sua formação. Aquilo a que estamos a assistir agora é a um grupo que se diz ser de 200 engenheiros – mas que ninguém sabe quantos são – que procura ser reconhecido com base num chico-espertismo.

- Não queria usar casos extremos, mas assinalámos recentemente os 150 anos da abolição de pena de morte. Quando foi abolida, os carrascos deixaram de ter trabalho. Foi abolida em Portugal a possibilidade de os engenheiros fazerem projetos de arquitetura. Para que eles se adaptassem foi-lhes dado um período de transição de cinco anos. Ao fim deste período foram dados mais três anos de transição, o que vai ao encontro de toda a jurisprudência de como se cessam direitos adquiridos. E quer-se agora revogar aquilo que foi um avanço.

- A arquitetura, a paisagem, o território. É tão só o que tem mantido Portugal a sair da crise.

- A culpa não é só dos engenheiros, é essencialmente da pouca formação com que se tratou os processos urbanísticos durante demasiados anos.

- Toda a reabilitação das nossas cidades e obras novas têm tido ganhos de qualidade [na sequência da mudança da lei em 2009] que têm levado a mais reconhecimento internacional e interno.

- Os arquitetos portugueses são reconhecidos do Qatar à América do Sul, do Japão a Londres.

- Em todas as profissões há sempre os melhores e os menos melhores. [relativamente aos "mamarranchos" de arquitetura]
- Todo um leque disciplinar que os engenheiros não dominam. Os engenheiros têm cadeiras durante o curso que lhes permitem dominar o desenho de arquitetura. Sabem desenhar uma fachada como eu sei desenhar um coração. Mas isso não faz de mim um cardiologista.

- O arquiteto é, por natureza da sua formação, aquele que desenha o espaço e isso não está ao alcance de qualquer outro curso ou formação. São universos conceptuais distintos.

- O que temos é uma disputa entre alguns engenheiros que pretendem ganhar na secretaria, com o apoio inexplicável da Ordem depois todos os outros engenheiros que não concordam com isso.

- Basta ir à página de Facebook da Ordem dos Engenheiros para ver uma discussão em que são os próprios engenheiros a questionar por que motivo se quer voltar atrás no tempo.

- A arquitetura é para os arquitetos e a engenharia para os engenheiros, e têm de trabalhar em complementaridade.

- Estes engenheiros que agora querem as suas habilitações reconhecidas não se adaptaram, mas houve outros que o fizeram. Para esses, o Estado ao aprovar esta lei estaria a quebrar o princípio da confiança e o princípio da igualdade.

- Mas uma coisa posso garantir: a obra desenhada por um arquiteto não é mais cara do que a desenhada por um engenheiro. E é fácil perceber porquê: um arquiteto leva o desenho da obra ao detalhe e, portanto, tudo está muito mais previsto desde o inicio.

- A obra do engenheiro deixa tudo muito mais à consideração do tempo. [explicando o porquê de afirmar que as obras desenhadas por engenheiros têm mais derrapagens]

- Espanta-me este apoio que a Ordem dos Engenheiros decidiu dar a estas pessoas que têm uma visão anacrónica.










6 Comentários:

JOSE disse...

Existem engenheiros com " melhor traço", do que alguns Arquitectos. Já estou a ficar saturado, de ver em Portugal moradias com "capotto" por fora, de cor branco, quatro ou cinco janelas e godo do rio na cobertura horizontal.

Rodrigo disse...

Os arquitetos não estão preocupados com a arquitetura. O que pretendem exatamente ė controlar a arquitetura "prostituindo-se" na venda de assinaturas de projetos executados por outros. Portanto a qualidade dos projetos continua a mesma o dinheiro é que vai para o bolso dos arquitetos. Conheço vários arquitetos cuja conversa é a seguinte. "epá eu não assino nada de outros, sabes, os deveres deontológicos e tal, não concordo com essas coisas de projetos de peso al que não é arquiteto..." Conforme vão aumentando os euros, "pronto pá se me deres X assino-te isso" cambada de hipócritas... sei bem do que falo podem ter a certeza pois cruzo-me todos os dias com essa realidade. E mais, os arquitetos são os primeiros a violar regulamentos prestando falsas declarações...admitam que essa é a grande verdade.

Papai disse...

Engraçado e que um engenheiro formado em portugal pode realizar projectos de Arquitetura em qualquer pais europeu mas no seu proprio pais nao pode. Bastando inscrever-se nas ordens respectivas. No entanto com a entrada em vigor do diploma da treta deixaram de pintar quadros e desenhos de puxadores de portas bem como sairam do desemprego.(as manias de prima dona servem agora para cobrar assinaturas aos desenhadores que sabem bem mais do oficio que eles e arranjar despesas e problemas graves aos donos de obra) enfim este e o país onde se compram leis aos legisladores a troco de favores.
Obrigado

Manuel Lima disse...

Plenamente de acordo com a Ordem dos Arquitectos. Em 1965, quando eu era desenhador de arquitectura, os engenheiros civis projectavam os ditos "mamarrachos" arquitectónicos, também designada por arquitectura dos "geómetras", dado que estes técnicos progectistas não possuiam formação artística, conhecimentos técnicos e nem a sensibilidade que só se adquire na formação específica da arquitectura. Por outro lado, se a lei for aprovada, recíprocamente também aos arquitectos deveria ser concedido o direito de elaborar progectos de estabilidade (estruturas) e das especialidades (abastecimento de água , drenagem de esgotos, elctricidade, redes de comunicações, etc., etec.).

Mário Domingues disse...

Em todas as profissões há bons e maus profissionais. Em todas as artes existem modas, cópias e mimetismos. Há quem tenha formação para saber ler, pensar e criar. Os trabalhos de arquitectura e de engenharia são complementares com uma pequena área de intersecção que deveria ser suficiente para o entendimento das duas especialidades.
Assim penso que cada macaco deve andar no seu galho...
Aos engenheiros seria de bom tom pensar que não basta ter umas noções (básicas) de desenho técnico e uma interpretação da legislação aplicável...
Sobretudo haja Bom Senso.

Ricardo Castel-Branco disse...

A César o que é de César...
Eu sou Arquitecto, apesar de a maior parte do meu trabalho se centrar no aspecto construtivo e técnico, passam-me pelas mãos diversos tipos de projetos, desde os projetos de autoria de arquitectos, os de engenheiros, e até de desenhadores projetistas.
Em todos eles existem exemplos que eu considero bons e maus (minha opinião).
No geral, os projetos de arquitectos apresentam cuidados estéticos que os dos outros técnicos não abordam de forma tão intensa. Não deixo contudo de fazer notar que no aspecto técnico deixam muitas vezes a desejar. É aí que por norma entra o meu próprio trabalho, que com várias décadas de envolvimento nas questões da construção ajudo os meus colegas a encontrarem soluções de engenharia e pormenores construtivos que sirvam os interesses do projeto, da obra, e em última instância, do cliente final.
Mas se adquiri esta capacidade, não o fiz usurpando o trabalho dos engenheiros... Faço uso das minhas capacidades e formação para apontar caminhos, que em ultima análise têm sempre que receber o aval dos técnicos correspondentes.
Desde cedo percebi que a qualidade de todo e qualquer produto se estabelece com o princípio do "cada macaco no seu galho".
Não quer isto dizer que não possamos intervir no trabalho dos técnicos associados ao projeto... Aliás, essa tarefa deve caber ao arquitecto coordenador, sendo que na minha perspectiva, quando mais esse coordenador souber "falar e entender" a linguagem dos restantes técnicos, melhor será o produto final.
Não me choca particularmente que arquitectos assinem projetos de outros técnicos, desde que se coprometam a fazer uso dessas capacidades para "informar" o projeto daquilo que entendem necessário... Aliás, essa é a prática corrente de tudo quanto é grande gabinete de engenharia e arquitectura... os menos experientes fazem, concebem, planeiam e desenham projetos... e os outros(donos dos gabinetes) estão lá para fiscalizar e assinar o que de lá sai... O que na prática é muito semelhante.
No fundo, é uma forma diferente de assumir responsabilidade pelo projeto de outrém,,, muito embora a qualidade desse projeto possa variar (como sempre varia).
Quanto a mim, que até sei dimensionar betão armado, o que é pernicioso é termos avançado no sentido de destrinçar perfeitamente quem fiscaliza o quê e quem assume responsabilidade pelo quê... e agora andamos "às arrecuas".
É que eu não vejo com bons olhos um projeto de estabilidade assinado por um arquitecto, da mesma forma que não vejo um projeto de arquitectura cuja responsabilidade é assumida por um engenheiro.
Até pode haver arquitetos que só fazem projetos "chapa 4", mas ainda assim,
tiveram a formação necessária e são-lhes reconhecidas capacidades para o fazer, e o julgamento sobre o seu trabalho é, como sempre, feito pelos seus pares e pelo público em geral. O mesmo se deverá passar em relação à engenharia, porque até há arquitectos com sensibilidade para a engenharia, e que desenham estruturas esbeltas,com princípios de segurança e economicamente viáveis... mas não devem assumir a responsabilidade das mesmas porque não têm as habilitações e a formação necessárias para tal.
É uma questão de legalidade e princípio que deve ser mantido e defendido, por uns e por outros.
Afinal de contas, as boas obras surgem da boa cooperação entre técnicos, e não da "usurpação" de competências uns dos outros.

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