segunda-feira, 17 de julho de 2017

Palacete de Belmarço em Faro - Reabilitar o Património Nacional

Verão em terras algarvias não se traduz apenas em aproveitar a praia, há muito que explorar e apreciar, e para quem tem a construção bem vincada dentro de si, os edifícios não escapam à vista. O passeio foi em Faro. O centro histórico, designado por cidade velha histórica, é tão típico como outras cidades portuguesas, as imponentes igrejas, a catedral riquíssima com os seus altares, a mistura de edifícios novos com antigos e com as características “casinhas” dos pescadores, a calçada antiga, polida com o tempo e os jardins bem conservados. Aqui, existem três bairros: a Mouraria, o Bairro Ribeirinho e a Vila-Adentro.

É neste último, na Vila-Adentro, que se encontra o Palacete de Belmarço. Neste momento, encontra-se rodeado por rede, andaimes e tapumes, sendo que a sua imponência não é facilmente visível mas suscita curiosidade.

O Palacete de Belmarço foi edificado entre 1912 e 1917 para habitação própria de Manuel de Jesus Belmarço, natural de Faro, e que fez fortuna no Brasil com o negócio de café e cereais. Para o desenho de projeto do edifício, Belmarço contratou um arquiteto lisboeta, autor de outros palacetes urbanos de estrutura imponente e gosto eclético - Manuel Joaquim Norte Júnior.
O corpo principal divide-se em três pisos, a que se acrescentam os dois pisos da torre, que inclui uma mansarda. A traça do edifício obedece à moda revivalista do seu tempo, destacando o torreão-mirante com sacadas de ferro forjado, as cantarias, os elementos decorativos em pedra lavrada e, esculpida no calcário, a cabeça de mulher de esfíngico sorriso, que ladeia a porta principal e os painéis de azulejos, datados de 1916 e assinados por Pinto, representando monumentos nacionais e paisagens e a escada de acesso ao andar nobre em estrutura de ferro representativa da época da Arte Nova.
Ao falecer em 1918, Manuel de Jesus Belmarço deixou o edifício ao seu filho, Vidal Belmarço e sua esposa, que viveram aí até aos anos 60. Em 1996, a Câmara Municipal de Faro adquiriu o edifício com a intenção de o reabilitar para instalar o Tribunal da Relação de Faro. A autarquia ainda investiu 250 mil de euros em obras de reabilitação mas aquando a abertura do fosso de elevador detetou-se que as fundações do palacete estavam ao nível das águas da ria formosa e concluiu-se que, com o agravamento dos custos inerentes, a obra tinha chegado ao fim.
Em 2006, a Estamo – empresa pública que gere o património imobiliário do Estado, adquiriu o imóvel e em 2014 vendeu-o em hasta pública a uma empresa da região – a Suburbs, detentora da Herdade do Menir, onde é produzido o vinho alentejano Couteiro Mor, e os empreendimentos turísticos Lagoa do Ruivo, em Castro Marim.

As obras de reabilitação deram início em setembro de 2016 e a sua conclusão está prevista para o início do ano de 2018. Devido ao avançado estado de degradação do imóvel, a reabilitação passa pelo reforço da estrutura do edifício, assim como na recuperação de todo o interior. O Palacete passará a ser a sede administrativa de várias empresas, convertendo o espaço em escritórios funcionais e de qualidade superior. Houve uma grande preocupação em manter a arquitetura original, dessa forma, foram selecionadas as melhores empresas nacionais em termos de capacidade técnica, profissional e experiência na área de recuperação de edifícios históricos.
O dono da empresa, João Rodrigues, natural de Faro, pretende dar uma nova vida a um outro edifício emblemático nesta cidade, o Antigo Magistério Primário, que também comprou em hasta pública e que pretende transformar numa unidade hoteleira de luxo.
Alguém disse um dia que “Daqui por diante é preciso conservar sistematicamente, pois a degradação também é sistemática”. Felizmente, os mais abastados, compreendem o significado desta frase e permitem que o nosso património respire de novo.

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Artigo escrito por Catarina Vicente.










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