terça-feira, 15 de março de 2011

E se o tsunami do Japão tivesse acontecido em Portugal?

Nos últimos dias temos acompanhado a tragédia que se abateu sobre o Japão após este país ter sido atingido por um violento tsunami. O número de mortos já vai em milhares e não se sabe em que valores parará a contagem. Na retina ficam as imagens da água a varrer tudo o que lhe aparecia à frente, inclusive alguns edifícios. E se isto aconteceu assim no Japão, reconhecidamente um país preparado para estes acontecimentos, como seria em Portugal? A propósito disso publicamos a seguir um excerto de uma entrevista que o Professor Catedrático Raimundo Delgado da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, especialista em engenharia sísmica, deu ao JN.

Em Portugal, há alguma possibilidade de vir a se registar um sismo tão forte?

Sim, claro. Aliás, acredita-se que o sismo de 1755 terá tido uma magnitude da mesma ordem do que se registou hoje no Japão.

E as consequências, seriam as mesmas?

Provavelmente, seriam mais graves. O Japão tem sismos com mais regularidade e estão preparados para pensar e responder a estas questões. Têm uma forma mais organizada para lidar nestas situações. Repare que o sismo acontece e eles pegam logo no kit de sobrevivência e sabem todos muito bem o que têm de fazer, já estão preparados.

E as nossas construções, resistiriam a um abalo tão forte?

Bom, as nossas construções também não têm razão para não se comportarem bem se os projectos forem realizados de acordo com os regulamentos.

Mas desde quando as construções estão preparadas?

Desde a década de 80. No regulamento datado de meados da década de 60, já havia prescrições para as construções, muito embora a zona Norte não fosse considerada, devido à fraca actividade sísmica na região. Só com o regulamento de 1984 é que se passou a incluir, para todo o Portugal, os modernos processos de dimensionamento sísmico. Então, a partir dessa data, não há razão para que as construções não resistam da mesma forma que resistem no Japão. A filosofia de dimensionamento é a mesma.

Pela sua resposta, deduzo que há alguma desconfiança que tal esteja a acontecer...

Não temos grandes mecanismos de certificação de projectos, que ficam apenas assentes na responsabilidade do projectista, mas nenhuma entidade verifica se os projectos cumprem ou não com o regulamento. Em relação à resistência sísmica, os projectos têm de ser verificados, nem que seja aleatoriamente.

E não é suposto haver fiscalização?

Não tenho a certeza de que haja uma fiscalização adequada por parte dos donos das obras e das entidades públicas no sentido de verificar se os projectos correspondem aos que foram entregues nas câmaras. Hoje, há maior preocupação por parte das empresas construtoras em fazer as coisas bem feitas. Quanto aos projectos, já não tenho tanto a certeza. Os projectos são feitos com base em cálculo automático e os projectistas podem não estar a dominar alguns aspectos no contexto da sismicidade.

Fonte: Jornal de Notícias










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